quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O filho universitário escreve para seus pais:

Querido Pai e querida Mãe
Já faz 3 meses q estou na Universidade e sei q demorei para escrever-lhes. Agora já estou melhor. A fratura e o traumatismo craniano q tive ao pular da janela de meu quarto em chamas ao chegar aqui, estão praticamente curados. Passei só duas semanas no hospital, minha visão está quase normal e aquelas terríveis dores de cabeça só voltam uma vez por semana. Como o incêndio foi causado por um descuido meu, temos que pagar R$50.000,00 para a Universidade pelos danos causados, mas isso não é nada, pois o importante é que estou vivo, não é?
Felizmente a empregada que trabalha na lavanderia em frente viu tudo. Aliás, foi ela quem chamou a ambulância e avisou os bombeiros. Ela também foi me ver no hospital e como eu não tinha para onde ir, já que meu quarto ficou reduzido as cinzas, teve a gentileza a convidar-me a passar um tempo com ela. Na verdade é um quarto que ela aluga para seu trabalho noturno, mas tem sido muito agradável. Ela tem o dobro da sua idade, mãe, e tem me mostrado um outro lado da vida, que é fascinante. Jogamos baralho o dia inteiro e ela me ensina altos truques!
Precisam ver, estamos perdidamente apaixonados e queremos casar. Apesar de não termos ainda fixado a data, espero que seja antes que a gravidez dela fique muito evidente. Pois é, queridos pais, serei papai. Sabendo que vocês sempre quiseram ser avós, tenho certeza que acolherão muito bem as crianças (são gêmeos, uaaaaaaaau!!!), com mesmo amor e carinho que me deram quando era pequeno. A única coisa que está atrapalhando o casório é uma pequena infecção que minha noiva pegou em seu trabalho noturno e que nos impede de fazer os exames pré-matrimoniais, eu também, por descuido, acabei pegando (como arde...), mas vou melhorar com o tratamento que a Nega Veia (é o apelido dela, pai) tá fazendo. Ela disse que penicilina é coisa besta e nem se compara à reza forte que ela faz. Vamos ver agora neste segundo mês... Sei que vocês a receberão no seio de nossa família, com os braços abertos.
Ela é muito amável e faz quiabo miúdo de galinha que é de comer ajoelhado, e embora nunca tenha estudado, tem muita ambição. Tenho certeza que a amarão tanto quanto eu. Como ela tem mais ou menos a sua idade, mamãe , tenho certeza que vocês se darão muito bem e se divertirão muito juntas pois, como a casa onde vivemos é muito pequena, pretendo voltar para casa com toda a minha nova família.
Ah, os pais dela também são pessoas maravilhosas e parece que estão interessados em morar com a gente num futuro próximo. Eu até mandei o dinheiro da passagem (raspei aquela poupança que haviam feito para mim aos cinco anos) mas os meus futuros sogros não puderam vir este mês porque o psiquiatra da clinica onde o pai dela trabalha como vigia, resolveu internar o Nhô Zulu ( é o apelido dele, pai) por problemas de alcoolismo e não lhe deu  alta esta semana porque ele está ainda um pouco, digamos, brigão... O cara não deve entender nada, né? Porque em Serra Leoa, de onde eles fugiram da policia por envolvimento em tráfico, a medicina é meio fraca.
Bem, agora que já sabem de tudo, é preciso que lhes diga que não ocorreu nenhum incêndio, não tive nenhum traumatismo craniano, não estive hospitalizado, não tenho noiva, não tenho sífilis e não há nenhuma prostituta anciã foragida na minha vida. A verdade é que tirei ZERO em Direito Comercial, 2 em Direito Processual Civil e 1 em Direito Processual Penal e quis mostrar-lhe que existe problemas bem mais complicados na vida que notas baixas! Um beijo de seu filho.

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